quinta-feira, 13 de junho de 2013

CASO DE SECRETÁRIA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

     Foi trombudo para o escritório. Era dia de seu aniversário, e a esposa nem sequer o abraçara, não fizera a minima alusão á data. As crianças também tinham se esquecido. Então era assim que a familia o tratava? Ele que vivia para seus, que se arrebentava de trabalhar, não merecer um beijo, uma palavra ao menos!
     Mas no escritório, havia flores á sua espera, sobre a mesa. Havia o sorriso e o abraço da secretária, que poderia muito bem ter ignorado o aniversário , e entretanto o lembrava. Era mais do que uma auxiliar , atenta, experimentada e eficiente,´pé-de-boi da firma, como até então a considerara; era um coração amigo.
    Passada a surpresa, sentiu-se ainda mais borocochô : o carinho da secretária não curava , abria mais a ferida. Pois então uma estranha se lembrava dele com tais requintes, e a mulher e os filhos, nada?
     Baixou a cabeça, ficou rodando o lápis entre os dedos, sem gosto para viver.
Durante o dia, a secretária redobrou de atenções. Parecia querer consolá-lo, como se medisse toda sua solidão moral, o seu abandono. Sorria, tinha palavras amáveis, e o ditdo da correspondencia foi entremeado de suaves brincadeiras da parte dela.
       -O Senhor vai comemorar em casa ou numa boate?
Engasgado, confessou-lhe que em parte nenhuma. Fazer anos é ma droga, ninguém gostava dele neste mundo, iria rodar por aí á noite , solitário, como o lobo da estepe.
     - Se o senhor quisesse, podiamos jantar juntos - insinuou ela, discretamente.
     E náo é que podia mesmo? Em vez de passar uma noite besta, ressentida - o pessoal lá de casa pouco tá ligando -, teria horas amenas, em companhia de uma mulher que - reparava agora -era bem bonita.
     Daí por diante o trabalho foi nervoso, nunca mais que se fechava o escritório.Teve vontade de mandar todos embora, para que todos comemorassem o seu aniversário, ele principalmente.Conteve-se, no prazer ansioso da espera.
      - Onde você prefere ir? - perguntou, ao saírem.
  - Se não se importa, vamos passar primeiro em meu apartamento. Preciso trocar de roupa.
     Ótimo, pensou ele;- faz-se a inspeção prévia do terreno, e, quem sabe?
      - Mas antes quero um drinque, para animar - ele retificou.
       Foram ao drinque, ele recuperou não só a alegria de viver e fazer anos, como começou a fazê-los pelo avesso, remoçando. Saiu bem mais jovem do bar, e pegou-lhe do braço.
      No apartamento, ela apontou-lhe o banheiro e disse que o usasse sem cerimônia. Dentro de quinze minutos ele poderia entrar no quarto, não precisava bater- e o sorriso dele, dizendo isto, era uma promessa de felicidade.
    Ele nem percebeu ao certo se estava arrumando ou se desarrumando, de tal modo os quinze minutos se atropelaram, querendo virar quinze segundos, no calor escaldante do banheiro e da situação. Liberto da roupa incômoda, abriu a porta do quarto. Lá dentro , sua mulher e seus filhinhos, em coro com a secretária , esperavam-no cantando "Parabéns pra você".

7 comentários:

  1. CRÔNICA

    A crônica é uma forma textual no estilo de narração que tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano. Por este motivo, é uma leitura agradável, pois o leitor interage com os acontecimentos e por muitas vezes se identifica com as ações tomadas pelas personagens.

    Você já deve ter lido algumas crônicas, pois estão presentes em jornais, revistas e livros. Além do mais, é uma leitura que nos envolve, uma vez que utiliza a primeira pessoa e aproxima o autor de quem lê. Como se estivessem em uma conversa informal, o cronista tende a dialogar sobre fatos até mesmo íntimos com o leitor.

    O texto é curto e de linguagem simples, o que o torna ainda mais próximo de todo tipo de leitor e de praticamente todas as faixas etárias. A sátira, a ironia, o uso da linguagem coloquial demonstrada na fala das personagens, a exposição dos sentimentos e a reflexão sobre o que se passa estão presentes nas crônicas.

    Como exposto acima, há vários motivos que levam os leitores a gostar das crônicas, mas e se você fosse escrever uma, o que seria necessário? Vejamos de forma esquematizada as características da crônica:

    • Narração curta;
    • Descreve fatos da vida cotidiana;
    • Pode ter caráter humorístico, crítico, satírico e/ou irônico;
    • Possui personagens comuns;
    • Segue um tempo cronológico determinado;
    • Uso da oralidade na escrita e do coloquialismo na fala das personagens;
    • Linguagem simples.

    Portanto, se você não gosta ou sente dificuldades de ler, a crônica é uma dica interessante, pois possui todos os requisitos necessários para tornar a leitura um hábito agradável!

    Alguns cronistas (veteranos e mais recentes) são: Fernando Sabino, Rubem Braga, Luis Fernando Veríssimo, Carlos Heitor Cony, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Ernesto Baggio, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis, Max Gehringer, Moacyr Scliar, Pedro Bial, Arnaldo Jabor, dentre outros.

    Por Sabrina Vilarinho
    Graduada em Letras
    Equipe Brasil Escola

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  2. Que historia o leitor imagina que sera contado

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  3. O teco e uma crônica ou conto ?? Justifique

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  4. Amei essa atividade!
    Parabéns professora!!!!!
    Um beijo.

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